style="width: 100%;" data-filename="retriever">No próximo domingo, 14 de fevereiro de 2021, o Clube Caixeiral completa 135 anos de vida. Fundado em 1886 por comerciantes, teve sua primeira sede na Rua Dr. Bozano, esquina com a Duque de Caxias. Depois funcionou por um tempo na Floriano Peixoto e, posteriormente, na Silva Jardim, até que, em outubro de 1926, foi finalizada a sua sede definitiva, à Rua do Acampamento, a poucos metros do Calçadão. O responsável pela obra foi o construtor Olympio Lozza. Sua constituição se deu numa época em que surgiram vários Caixeirais no Rio Grande do Sul, mais precisamente no período entre 1879 e 1890. Ao todo, 12 cidades fundaram seus clubes: Pelotas, Porto Alegre, Bagé, Livramento, Jaguarão, Santa Maria, Alegrete, São Gabriel, Rio Grande, Cachoeira do Sul, Uruguaiana e São Sepé.
Encravado no coração de Santa Maria, o Caixeiral é parte importante na nossa história. Suas dependências abrigaram inúmeras gerações, proporcionando lazer, esporte e cultura. Seu belíssimo salão de festas foi palco dos mais diversos acontecimentos sociais e culturais, desde bailes de debutantes e de carnaval, até concursos de beleza e festivais de música. Também abrigou formaturas, casamentos, bailes de gala e outros eventos.
O Caixeiral me traz boas lembranças. Durante uma época da infância gostava de frequentar a biblioteca do clube. Havia revistas em quadrinhos, revistas de esporte, jornais, livros e outros. Nessas incursões de leitura conheci uma pessoa que, mais tarde, viria a ser um grande amigo: Claudinho Cardoso, uma das figuras mais queridas e populares de Santa Maria. Lembro que ele sempre entrava rápido na biblioteca, como quem estivesse atrasado para algum compromisso. Percorria rapidamente diversos impressos, até chegar no jornal A Razão. Nesse instante, o ritmo mudava. Folheava atentamente página por página, tentando encontrar fotografia de algum amigo. Quando achava, ficava faceiro. Daí, procurava alguém por perto para mostrar o jornal, apontando o dedo para a foto do conhecido. Tudo isso sem jamais interferir na lei do silêncio, que era norma da biblioteca. Depois, saía apressado para cumprir sua rotina diária de levar alegria aos mais diversos locais do centro.
Os anos se passaram e o Caixeiral começou a perder terreno. A pujança foi dando lugar aos problemas, principalmente os financeiros. Outros clubes tradicionais começaram a viver o mesmo enredo. Como não há nada ruim que não possa piorar, veio a dolorosa madrugada de 6 de fevereiro de 2018, com a queda de parte do seu telhado. As atividades internas foram suspensas e, por óbvio, a situação financeira se agravou. Há poucos dias, mais uma parte do telhado cedeu.
O sofrimento do Caixeiral pode ser considerado um sofrimento da cidade. Seu coração bate no coração de Santa Maria. O belo salão de festas, que tantas histórias tem para contar, hoje contempla o céu. Recebe a visita do sol e da chuva. Tem a lua e as estrelas para espiá-lo diariamente. O conserto do telhado, estimado em 500.000 reais, é um desafio a ser vencido. É uma barreira a ser transposta. O futuro de um dos clubes mais simpáticos e tradicionais depende dessa difícil missão. Resta torcer para uma solução. A história centenária do Caixeiral precisa prosseguir. Há muito a ser escrito ainda. Para o bem do clube. Para o bem de Santa Maria.